Há poucos mais de dez anos nascia o Blog do Zé Dirceu, dentro de uma
seção de blogs de colunistas políticos criada pelo portal iG e tendo
como pano de fundo as eleições de 2006.
Em seus primeiros posts, Zé Dirceu, injustamente cassado pela Câmara
dos Deputados em 2005, na esteira do chamado “mensalão”, comentava temas que
seriam recorrentes ao longo dos anos: a imprescindível reforma política com
financiamento público de campanha, para acabar com a subordinação do Parlamento
aos interesses econômicos; a necessidade de investimentos em infraestrutura para
fazer o Brasil crescer; a defesa dos programas sociais do governo Lula para
extirpar a miséria; o combate ao rentismo e ao receituário neoliberal para a
economia.
Zé Dirceu engajou-se na campanha de 2006 por meio do blog. Sempre
apostou na reeleição de Lula, animando a militância. Mas abria pausas em seu
discurso político para recomendar, naquele agosto de 2006, em plena polarização
eleitoral, o documentário de Sergio Rezende sobre Zuzu Angel, mãe do
desaparecido político Stuart Angel e morta em um acidente de carro nebuloso, em
plena ditadura.
Nesses dez anos, à exceção dos meses em que esteve preso como réu na ação
penal 470, a ação do “mensalão”, e em sua prisão mais recente, desde agosto
deste ano, na operação Lava Jato, o blog foi uma atividade diária do
político Zé Dirceu, ex-ministro da Casa Civil do primeiro governo Lula. Zé
dedicava três a quatro horas diárias para o blog. Recebia o resumo do
noticiário gerado na noite anterior, lia os jornais, conversava com pessoas e
escrevia. E gostava de comentar tudo. Dos fatos internacionais relevantes à
repressão policial nas periferias, alguma dose de cultura e política, sempre
política.
O blog, montado pelo trabalho voluntário de um grupo de amigos
jornalistas, ganhou peso, expressão e se tornou leitura obrigatória de
colunistas e jornalistas políticos, de políticos da base de sustentação do
governo e da oposição e de milhares de militantes.
Do trabalho voluntário nos primeiros meses, o blog conseguiu se
profissionalizar à medida em que Zé Dirceu consolidava sua atividade
profissional. Passou a ser um site com várias sessões, onde se
destacaram entrevistas históricas onde ele próprio era o entrevistador.
A primeira entrevista foi com o economista e professor Luiz Gonzaga Belluzzo,
em agosto de 2006. Naquele momento, o governo Lula havia consolidado a
estabilidade da moeda, ampliado a autonomia externa do país e praticamente
zerado a dívida externa do setor público. Na época, ele disse: “Não há
desenvolvimento sem a radicalização da democracia. A democracia entendida como a
participação das massas. Aqui, no Brasil, há muito democrata que gosta da
democracia sem a participação do povo. Quando o povo começa a colocar as mangas
de fora, eles começam a achar ruim. Então, essa é a mensagem da Carta e também,
ao mesmo tempo em que isso avance, isso se chama consolidação do Estado
Democrático de Direito Social. Não há democracia sem ampliação dos direitos
sociais. Nós estamos muito atrasados nisso aí”. Poderia dizer hoje, novamente.
Foram dezenas de entrevistados e entrevistadas. Alguns exemplos: Venício
Artur de Lima, José Eduardo Dutra, Tânia Bacelar, Ciro Gomes, Zé de Abreu, José
Eduardo Dutra, Ermínia Maricato, João Carlos Martins, Delfim Netto, Sergio
Amadeu, Daniela Silva, Ligia Bahia, Mário Magalhães, Luís Nassif, Ladislau
Dowbor, Nelson Barbosa. O mais recente, antes da reprisão de Dirceu, foi
Guilherme Boulos, falando da necessidade de construir uma ampla mobilização
social para alterar a relação de forças e impulsionar um novo ciclo de luta de
massas no país.
De 2006 até dezembro de 2015 foram cerca de 14 mil posts, 2,5
milhões de leitores únicos, 17, 2 milhões de pageviews. Em todos os
posts, à exceção dos períodos de sua prisão, Zé Dirceu sempre deu ritmo
ao blog. Quando não escrevia, recomendava, orientava e dizia o que era
para publicar.
Sem a tribuna do Parlamento, o blog foi a sua tribuna. Para defender
o PT – sem abrir mão das críticas –, defender suas ideias, orientar a
militância, animá-la nos momentos dos embates mais difíceis. Foi a tribuna para
fazer a sua defesa na ação penal 470, na qual foi condenado sem provas sob a
teoria, sacada da algibeira pelo ex-ministro do STF, Joaquim Barbosa, do
“domínio do fato”. Para fazer a sua defesa, Zé Dirceu, além da publicidade dada
pelo blog, percorreu o Brasil de Norte a Sul, com recursos próprios,
ganhos em suas consultorias, reunindo-se com a militância, com políticos, com
formadores de opinião. Expunha seus argumentos, suas provas, pois pela mídia
tradicional já tinha sido condenado muito antes de qualquer prova.
Foi para fazer sua defesa, pagar os advogados, os profissionais do
blog e percorrer o Brasil, que Zé Dirceu se tornou consultor. Com sua
biografia, seus contatos em vários países da América Latina e mesmo Estados
Unidos e Europa, ele tinha tudo para ser um consultor bem-sucedido. Essas
atividades, que envolveram também a prestação de serviços para construtoras que
terminaram envolvidas na Operação Lava-Jato, levaram à sua segunda prisão.
Hoje, voltamos ao ponto onde começamos. Desde a prisão do Zé Dirceu, em
novembro de 2013, o site vem sendo tocado por um grupo de amigos. Até
maio deste ano, foi possível manter dois profissionais contratados, um
jornalista e um assistente. De lá para cá, continua no ar graças ao trabalho
voluntário. Diante da indefinição de sua situação, de não sabermos quando ele
poderá ter direito novamente a se manifestar, nós, os amigos do blog,
chegamos à conclusão de que sua atualização diária deve ser interrompida
temporariamente.
Não é o fim de uma história. É apenas uma pausa.
E, ao fazer esta pausa, um agradecimento aos nossos leitores e aos seus
milhares de comentários, para o bem e para o mal, aos nossos colunistas, aos que
deram suas horas de trabalho de forma voluntária. Nos orgulhamos de ter
contribuído para o debate político, sempre do ponto de vista da esquerda e da
defesa das mudanças ainda necessárias para que o Brasil se torne um país à
altura de sua maior riqueza: os brasileiros, as brasileiras, a maioria da
população que ainda enfrenta as injustiças geradas por centenas de anos de
desigualdade. E tem muitos direitos a conquistar.
http://www.zedirceu.com.br/
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